Olá, internautas
Na última sexta-feira (06/09), o remake de “Renascer” chegou
ao último capítulo. A novela das nove da TV Globo, adaptada por Bruno Luperi,
não repetiu o sucesso da obra original. A distância de repercussão entre as
produções de 1993 e 2024 é enorme.
Neste caso, a perda de força da TV aberta não pode ser a
justificativa principal para o fenômeno. A adaptação iniciou com ótima
perspectiva. A passagem para a segunda fase apresentou entraves do início ao
fim. O elenco foi composto por poucos medalhões da emissora. Uma novela das
nove com poucas estrelas do primeiro escalão já sinalizava apreensão antes da
estreia.
Apesar do temor, o elenco, no geral, funcionou. A representatividade
pela cor da pele apareceu bem contextualizada na obra. Porém, outro problema
crônico da teledramaturgia da TV Globo em 60 anos apareceu com ênfase. A falta
de atores genuinamente baianos trouxe o sotaque artificial à produção. A
representatividade regional não é valorizada, até hoje, mesmo dentro das novas
diretrizes do Grupo Globo.
Antes do nosso tradicional balanço com os pontos positivos e
negativos, destaco algumas ponderações. Marcos Palmeira, no geral, desenvolveu
um bom trabalho em Renascer. O ator, na realidade, adocicou José Inocêncio. O
personagem perdeu a aura de anti-herói. Iniciou, estranhamente, com o mesmo sotaque
de José Leoncio, de Pantanal. No decorrer da obra, incorporou o tom baiano. Mesmo
assim, uma indagação ficará. Leonardo Vieira, que brilhou na primeira fase de Renascer
em 1993, não teria sido o nome certo para protagonizar a adaptação? O ator
poderia ter feito alguma participação especial.
A personagem mais icônica de Renascer 93, Buba, se
transformou, na realidade, em outra figura no remake. Gabriela Medeiros deu um
tom muito mais ameno a sua Buba. Durante o desenrolar da obra, Luperi conseguiu
justificar a mudança da personagem “hermafrodita” em mulher trans. O adaptador
acertou em cheio no desenvolvimento da história da personagem com sua família. Gabriela
não comprometeu.
Já Theresa Fonseca superou a expectativa ao pegar um dos
personagens mais traumáticos da obra original. A atriz cumpriu a missão ao
viver Mariana, personagem mal construída nas mãos de Benedito Ruy Barbosa.
Luperi não conseguiu desatar o nó da criação original. Após ficar sem função em
muitos capítulos, a personagem ganhou uma reviravolta apenas no derradeiro
final.
Agora, sigamos com a lista (a primeira fase já foi analisada
meses atrás).
PONTOS POSITIVOS
Edvana Carvalho (Inácia): Edvana foi o único vislumbre verdadeiro
de baianidade em “Renascer 24”. Brilhou do início ao fim com sua personagem que
trouxe a diversidade religiosa ao remake. Acerto de Luperi. Nota 10.
Xamã (Damião): foi, de fato, a maior revelação de “Renascer”.
O então cantor demonstrou sua versatilidade na interpretação. Encarou o enorme desafio
ao viver o matador Damião. Excelente do início ao fim. Não perdeu fôlego em
momento algum.
Sophie Charlotte (Eliana): Eliana foi a personagem que mais
cresceu da obra original para o remake, principalmente pela ótima atuação da
atriz Sophie Charlotte que colhe outro êxito em sua carreira.
Marcello Melo Junior (Zè Bento): o ator conseguiu passar o
ar da baianidade ao personagem. Incorporou o espírito à obra teoricamente nordestina.
Renan Monteiro (José Augusto): ainda com pouco destaque na
teledramaturgia da TV Globo, o ator aproveitou a oportunidade e se destacou no
personagem que vivia aflições com o seu destino e escolhas de vida. A longa cena
de Zé Augusto que reverberou as suas angústias no relacionamento frio com o pai
Zé Inocencio aparece como um dos principais momentos da segunda fase. Tocante e
uma ótima parceria com Marcos Palmeira no vídeo.
Rodrigo Simas (José Venancio): em Renascer, o ator passou
seu amadurecimento profissional. Crescimento perceptível na pele de Zé
Venancio. A novela caiu, após a morte do personagem. Fez falta.
Matheus Nachtergaele (Norberto) e Almir Sater (Rachid): os
dois atores cresceram durante a segunda fase do remake. Passaram um ótimo
entrosamento no vídeo e suavizaram a produção. O diálogo de Norberto com o telespectador
foi uma boa sacada. A experiência sempre faz a diferença.
Giullia Buscaccio (Sandra): Sandra foi uma das personagens
que mais cresceu no remake. Isso se deve ao ótimo desempenho da atriz Giullia
Buscaccio que viveu o melhor momento de sua carreira artística. Transmitiu
carisma e empoderamento à mocinha da novela.
PONTOS NEGATIVOS
Juan Paiva (João Pedro): no remake de Pantanal, Jesuita
Barbosa aprofundou a chatice de Jove. No remake de Renascer, Juan Paiva
aprofundou a melancolia de João Pedro. Do início ao fim. Trouxe vestígios de
seus recentes trabalhos ao caçula de Inocêncio. O ator personificou os maiores problemas
do remake. O sotaque baiano ficou artificial. E o ar soturno do personagem se
aprofundou. João Pedro ficou mais “menino” nas mãos de Paiva em comparação a
Marcos Palmeira. Isso pode ser visto como uma questão geracional.
Irandhir Santos (Tião Galinha): Tião Galinha foi um dos
principais personagens de Renascer original. Osmar Prado brilhou. Conquistou premiações
importantes e entrou para a história da teledramaturgia nacional. Já na readaptação,
o ator Irandhir Santos pesou o personagem com uma atuação mais alinhada à “consciência
de classe”. Sem carisma. Luperi deu um novo destino a Tião Galinha. Uma adaptação
necessária. Porém, o “ex-catador de caranguejo” aprofundou o tom pesado do
remake.
Falta da Bahia: Muito diferente da obra original, o calor da
Bahia desapareceu no remake. Em 1993, o turismo explodiu em Ilhéus. Na produção
de 2024, a saga de Zé Inocêncio poderia ter sido gravada em qualquer região do
País. O baiano não se reconheceu na tela.
Novela soturna: Na obra original, a direção de Luiz Fernando
Carvalho transformou “Renascer” em uma novela solar. Já o diretor Gustavo
Fernandez trouxe um ar soturno à história. O filtro escuro na imagem transformou
a fazenda em um breu. O tom terroso marcante no figurino e cenário aprofundou
ainda mais tal impressão. A linguagem estética é um dos principais problemas
atuais das telenovelas da TV Globo.
Fabio Maksymczuk
Pela primeira vez vou discordar de você Fábio
ResponderExcluirO Juan Paiva é talentoso e levou a novela nas costas eu ria e chorava com suas cenas.
Só espero outros papéis fora da curva pra ele.
Abraço e nos vemos no BlueSky
Eu tenho consciência que uma parcela do público gostou do desempenho do ator. Como eu assisti à versão original, é impossível não traçar um paralelo com o João Pedro nas mãos do Marcos Palmeira. É bem diferente.... Vc não deixou o nome aqui, mas me siga no no Bluesky. Rs...
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