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quarta-feira, 2 de abril de 2025

FABIOTV na exibição do filme e debate sobre "A Batalha da Rua Maria Antônia"

 

Olá, internautas

Nesta segunda-feira (31/03), no Centro MariAntonia da USP, tive a oportunidade de acompanhar a exibição do filme “A Batalha da Rua Maria Antônia”, dirigido e roteirizado por Vera Egito, e o debate sobre o longa que reúne 21 planos-sequência, gravados em película 16mm em preto e branco, que destacam momentos da Batalha da Maria Antônia, em outubro de 1968, com um retrato de estudantes e professores do movimento estudantil de esquerda, na Faculdade de Filosofia da USP, e o confronto com o Comando de Caça aos Comunistas vindos do outro lado da rua, onde fica a Universidade Mackenzie.

Sou formado tanto pela USP, em Relações Públicas, quanto pelo Mackenzie, em Jornalismo. Moro próximo da Rua Maria Antonia que fica localizada em Vila Buarque e Higienópolis, na região central da cidade de São Paulo. Sempre ouvi histórias da batalha entre os estudantes que marca a história dos bairros e até do Brasil. Meses depois, o governo instaurou o AI-5. Por isso mesmo, fiz questão de acompanhar o filme no prédio que foi alvo dos manifestantes da extrema-direita.

Como ressaltado pela diretora no debate, “A Batalha da Rua Maria Antônia” é um filme com baixíssimo orçamento. Mesmo assim, senti falta da “batalha campal” entre os universitários da USP e Mackenzie na rua. Além disso, o longa não foi filmado na Rua Maria Antonia e nem nas dependências do edifício da USP, que abrigava os cursos de Filosofia e Ciências Sociais, e muito menos do Mackenzie.

Como dito por Vera, ela escolheu o seu lado da rua e focou nos uspianos. O roteiro poderia ter abordado quem eram os mackenzistas pertencentes ao CCC. O filme tem o mérito de não generalizar todos os estudantes do Mackenzie como apoiadores do Regime Militar. Até mesmo, indaga se, de fato, eram somente alunos ou também infiltrados do governo autoritário. A morte do estudante secundarista José Carlos Guimarães ganhou espaço no roteiro.

A cineasta fez questão de humanizar os jovens retratados com cenas de “pegação” e relação lésbica para, através da personagem Lilian (Pamela Germano), simbolizar a liberdade sexual que eclodiu nos anos 60. O ator Caio Horowicz, que interpreta o líder estudantil Benjamin, se destaca no elenco.

Vera confidenciou que o roteiro começou a ser construído em 2010, durante o clima da vitória de Dilma Rousseff, egressa da luta contra a Ditadura Militar, para a presidência da República. Porém, as etapas da finalização do filme passaram pela queda da presidente em 2016 e vitória de Bolsonaro em 2018. Sua percepção modificou-se com os diferentes momentos históricos que perpassaram até a filmagem que iniciaria em 2020 e, por conta da pandemia, adiada para 2022, ainda no clima de apreensão com a reeleição de Bolsonaro.

A cineasta também revelou que trocou os episódios do confronto para a noite com a ideia de trazer um clima mais cinematográfico. A professora titular de Sociologia da USP, Maria Arminda Arruda, que viveu a batalha da Maria Antonia em sua juventude, ressaltou no debate que o confronto, na realidade, aconteceu à luz do dia. Vera frisou que “A Batalha da Rua Maria Antônia” é uma obra de ficção, com personagens fictícios, baseado em fatos reais.

A mesa do debate contou ainda com a participação do cineasta André Manfrim, da socióloga Rachel Abrão e da atriz Isamara Castilho que interpreta Angela.  

“A Batalha da Rua Maria Antônia” entra no rol de filmes que aborda o Regime Militar entre 1964 a 1985. É mais uma visão ao lado de “Ainda Estou Aqui” sobre um período histórico que ainda é mal estudado e refletido nas salas de aula e na sociedade brasileira.

Fabio Maksymczuk 

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