Olá, internautas
Na última semana, a TV Globo exibiu “O Século do Globo” com
criação de Pedro Bial. A atração celebrou, em quatro episódios, os 100 anos do
jornal O Globo que serão completados em 29 de julho.
“O Século do Globo” trilhou o caminho de produção
institucional do Grupo Globo com ares de documentário. A dramaturgia pincelou a
série com a participação de Tony Ramos e Eduardo Sterblitch que interpretaram
Roberto Marinho em distintas fases da vida.
As entrevistas surgiram como principal atrativo,
principalmente dos filhos de Roberto Marinho, João Roberto Marinho, José
Roberto Marinho e Roberto Irineu Marinho. O momento mais revelador da produção
já tinha sido veiculado na programação da TV Globo. Roberto Irineu Marinho narrou
a presença de um helicóptero que rodeava as janelas da sala onde era comandada
a transmissão das manifestações a favor da queda do Regime Militar, em meados
dos anos 80, pela emissora platinada.
“O Século do Globo” não fugiu de suas chagas, como a
cobertura do jornal O Globo durante o governo Vargas nos anos 50. A publicação atuava
como veículo de oposição estridente ao presidente com a participação atuante de
Carlos Lacerda. Após a morte do líder político, a população do Rio de Janeiro
se revoltou contra o periódico, depredando os bens da marca. Um dos filhos de
Roberto Marinho tentou defender que, após tal episódio, o jornal abandonou a postura
“de radicalidade oposicionista”.
Anos mais tarde, “O Globo”, mais uma vez, em uma
continuidade histórica, sujou a sua imagem ao apoiar o Golpe Militar de 1964,
denominado naquela ocasião de “Revolução de 64”. Tentaram argumentar que todos os jornais adotaram
tal postura. “O Século do Globo” não fugiu do momento e ressaltou o importante
editorial do jornal publicado em 2014 que confessou o erro naquela oportunidade.
Os bastidores da política ganharam espaço no documentário,
especialmente sobre a relação de Roberto Marinho com Leonel Brizola (segundo um
dos filhos, era amistosa nos bastidores), Paulo Maluf, Dilma Rousseff, Lula e
Antonio Carlos Magalhães. Neste caso, apenas citaram o apoio a ACM sem
aprofundamento.
Em um dos momentos mais importantes da produção, Pedro Bial frisou que Roberto Marinho ampliou seus domínios durante os anos da redemocratização e
não no Regime Militar. Até influenciou na decisão de transformar ACM em
ministro das Comunicações no governo José Sarney. Esse ponto é primordial, já
que Marinho controlava jornal, rádio e televisão. Concentração midiática nas
mãos de uma família que percorreu os anos 80 e 90.
Em outro momento revelador, Roberto Irineu Marinho enfatizou
que seu pai não admirava Fernando Colllor. Teria defendido Mario Covas no
primeiro turno nas eleições de 1989. No segundo turno, apoiou o ex-governador
de Alagoas para evitar a vitória de Lula. Lily Marinho, apavorada com uma
possível vitória lulista, até teria comentado que sairia do Brasil.
No último episódio, jornalistas de O Globo conquistaram espaço.
Flavia Oliveira retratou os desafios da solitudade de uma mulher negra no universo
do jornalismo econômico e a ampliação da diversidade nos veículos de
comunicação do grupo O Globo. Já Vera Araújo confidenciou os dramas pessoais
advindos da cobertura do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista
Anderson Torres. Já Miriam Leitão encerrou o documentário com o seu depoimento diante
das falas do presidente Jair Bolsonaro.
Por fim, o futuro do jornal impresso ganhou uma perspectiva
de 10 anos. Enfatizaram que a marca ocupou outras mídias, principalmente o
digital. Durante muitos anos, tive a oportunidade de ler diariamente “O Globo”.
De fato, a publicação se notabilizava por um excelente texto. Havia uma maior
profundidade em relação ao material da Folha de S. Paulo, por exemplo. Apesar
disso, a postura do periódico em momentos decisivos da nossa História (até
mesmo na cobertura recente do impeachment da presidente Dilma Rousseff) precisa
ser alvo de muitos questionamentos e criticidade.
Fabio Maksymczuk
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