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segunda-feira, 14 de julho de 2025

"O Século do Globo" aparece como produção institucional do Grupo Globo

 

Olá, internautas

Na última semana, a TV Globo exibiu “O Século do Globo” com criação de Pedro Bial. A atração celebrou, em quatro episódios, os 100 anos do jornal O Globo que serão completados em 29 de julho.

“O Século do Globo” trilhou o caminho de produção institucional do Grupo Globo com ares de documentário. A dramaturgia pincelou a série com a participação de Tony Ramos e Eduardo Sterblitch que interpretaram Roberto Marinho em distintas fases da vida.

As entrevistas surgiram como principal atrativo, principalmente dos filhos de Roberto Marinho, João Roberto Marinho, José Roberto Marinho e Roberto Irineu Marinho. O momento mais revelador da produção já tinha sido veiculado na programação da TV Globo. Roberto Irineu Marinho narrou a presença de um helicóptero que rodeava as janelas da sala onde era comandada a transmissão das manifestações a favor da queda do Regime Militar, em meados dos anos 80, pela emissora platinada.

“O Século do Globo” não fugiu de suas chagas, como a cobertura do jornal O Globo durante o governo Vargas nos anos 50. A publicação atuava como veículo de oposição estridente ao presidente com a participação atuante de Carlos Lacerda. Após a morte do líder político, a população do Rio de Janeiro se revoltou contra o periódico, depredando os bens da marca. Um dos filhos de Roberto Marinho tentou defender que, após tal episódio, o jornal abandonou a postura “de radicalidade oposicionista”.

Anos mais tarde, “O Globo”, mais uma vez, em uma continuidade histórica, sujou a sua imagem ao apoiar o Golpe Militar de 1964, denominado naquela ocasião de “Revolução de 64”.  Tentaram argumentar que todos os jornais adotaram tal postura. “O Século do Globo” não fugiu do momento e ressaltou o importante editorial do jornal publicado em 2014 que confessou o erro naquela oportunidade.

Os bastidores da política ganharam espaço no documentário, especialmente sobre a relação de Roberto Marinho com Leonel Brizola (segundo um dos filhos, era amistosa nos bastidores), Paulo Maluf, Dilma Rousseff, Lula e Antonio Carlos Magalhães. Neste caso, apenas citaram o apoio a ACM sem aprofundamento.  

Em um dos momentos mais importantes da produção, Pedro Bial frisou que Roberto Marinho ampliou seus domínios durante os anos da redemocratização e não no Regime Militar. Até influenciou na decisão de transformar ACM em ministro das Comunicações no governo José Sarney. Esse ponto é primordial, já que Marinho controlava jornal, rádio e televisão. Concentração midiática nas mãos de uma família que percorreu os anos 80 e 90.

Em outro momento revelador, Roberto Irineu Marinho enfatizou que seu pai não admirava Fernando Colllor. Teria defendido Mario Covas no primeiro turno nas eleições de 1989. No segundo turno, apoiou o ex-governador de Alagoas para evitar a vitória de Lula. Lily Marinho, apavorada com uma possível vitória lulista, até teria comentado que sairia do Brasil.

No último episódio, jornalistas de O Globo conquistaram espaço. Flavia Oliveira retratou os desafios da solitudade de uma mulher negra no universo do jornalismo econômico e a ampliação da diversidade nos veículos de comunicação do grupo O Globo. Já Vera Araújo confidenciou os dramas pessoais advindos da cobertura do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Torres. Já Miriam Leitão encerrou o documentário com o seu depoimento diante das falas do presidente Jair Bolsonaro.

Por fim, o futuro do jornal impresso ganhou uma perspectiva de 10 anos. Enfatizaram que a marca ocupou outras mídias, principalmente o digital. Durante muitos anos, tive a oportunidade de ler diariamente “O Globo”. De fato, a publicação se notabilizava por um excelente texto. Havia uma maior profundidade em relação ao material da Folha de S. Paulo, por exemplo. Apesar disso, a postura do periódico em momentos decisivos da nossa História (até mesmo na cobertura recente do impeachment da presidente Dilma Rousseff) precisa ser alvo de muitos questionamentos e criticidade.

Fabio Maksymczuk

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